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Entrevista ao Zuggi

Compartilho com vocês entrevista dada ao blog Zuggi e como sempre estou aberta a sugestões e críticas 🙂

Parte 1 – falo sobre tablets, segurança na internet e Recursos Educacionais Abertos.

1) Como as novas tecnologias podem contribuir para a educação dos alunos?

A tecnologia sozinha não muda nada. Sem mudarmos o modelo autoritário e unilateral que perdura há tempos na educação, o que ocorrerá é uma extensão do meio tradicional de ensino também para o “meio tecnológico”. Temos que ter em mente que a tecnologia potencializa as relações humanas e as trocas advindas desta relação é que gera o conhecimento e não propriamente o uso de uma tecnologia específica.

A educação é (ou deveria ser) um processo que dura toda a vida e não somente os anos obrigatórios de escola. A tecnologia na escola permite fazer essa ponte, trabalhar com os conteúdos de forma mais dinâmica, gerar o protagonismo dos alunos, possibilitando a interação entre eles e professores dentro e fora dos muros da escola, dando significados reais ao cotidiano e não somente para um fim específico que “morre” ao término do trabalho.

2) Sabemos dos perigos da internet para a formação e informação dos alunos. Quais cuidados um professor deve ter para utilizá-la em sala de aula?

Este é um tema super importante e muitas vezes esquecido ou simplesmente ignorado pelas escolas, acredito que isto ocorre devido a falta de informação e de um consenso sobre de quem é este papel, família ou escola? Eu diria que a responsabilidade é de todos. Acho que o tema sobre uso seguro da internet e telas digitais deveria ter lugar privilegiado nas instituições de ensino, assim como, penso que as famílias têm que despertar para a importância de orientar seus filhos e não transferir a responsabilidade toda para a escola. Mas como educar para o bom uso das telas digitais quando não sabemos como intervir, seja por falta de formação ou conhecimento sobre o assunto? Vou tentar dar algumas dicas baseada na minha experiência.

Atualmente, desenvolvo no Centro Educacional Pioneiro o projeto Comportamento, Segurança e Ética na Internet. Este projeto teve início em abril de 2011 e está estruturado em 3 fases:

  • Fase 1: sensibilização (debates com alunos, professores e pais)
  • Fase 2: produção de conteúdo (alunos autores criarão cartazes, folders, blogs, vídeos, sites e todo tipo de mídia da ESCOLHA DELES)
  • Fase 3: disseminação (estamos estudando licenciar todo material em Creative Commons e compartilhar na rede)

Nós completamos a fase 1 este ano, integrando e chamando a participação toda a comunidade escolar: alunos, professores e famílias! Esta fase se baseou no debate, eu trouxe exemplos e questões norteadoras adequadas a cada faixa etária, nesta fase todos tinham o direito a palavra, a esboçar suas opiniões, o conhecimento foi construído colaborativamente. Vejam que é muito diferente de dar uma palestra, nosso processo não é unilateral e nem centralizador, ele é baseado no grupo e no compartilhamento!

Nestas dinâmicas que chegaram a durar 3 horas seguidas sem que ninguém sequer esboçasse vontade de ir embora, nós falamos sobre alguns temas gerais como:

  • Compartilhamento de dados pessoais,
  • Privacidade,
  • Mundo real x mundo virtual,
  • Comportamento nas redes sociais,
  • Compartilhamento de imagens e vídeos,
  • Videogames e games online,
  • SMS,
  • Sexting,
  • Uso da Webcam,
  • Ciberbullying,
  • Cidadania online.

Para introduzir todos estes assuntos pesquisei os “memes” e “virais” que os alunos tanto falam pelos corredores, editei um vídeo com as pessoas (crianças, adolescentes e adultos) que caíram nas redes por descuido ou vontade própria e trabalhamos com exemplos práticos que ocorreram nas redes sociais e que são conhecidos de todo adolescente conectado. Fizemos o exercício de nos colocar no lugar do outro e pensar sobre nossos sentimentos em relação às situações abordadas para trabalhar questões como respeito, ética e solidariedade, assim como falamos das vantagens e perigos ocultos nas interfaces e ferramentas mais usadas por eles.

Para chegar a este modelo consultei materiais pré-fabricados que trazem informações gerais e que aconselho a todos que precisam de informações iniciais sobre o assunto, como:

Cartilha da Safernet: http://www.safernet.org.br/site/prevencao/cartilha/safer-dicas

Internet Responsável: http://www.internetresponsavel.com.br

Cartilha da OAB: http://www.oabsp.org.br/comissoes2010/crimes-alta-tecnologia/cartilhas

Criança mais Segura: http://www.criancamaissegura.com.br/cartilhas.php

Proyecto Centinela: http://www.proyectocentinela.com/

Pantallas Amigas: http://www.pantallasamigas.net/

Acho que não existe receita de bolo, faça uma pesquisa inicial com seus alunos, descubra as redes e ferramentas que usam e participam, descubra com eles o que é assunto no momento e porque eles se interessam por eles, trace o perfil sobre quem é seu aluno no mundo digital e o que eles consomem e produzem, integre-se! Acho que este é o melhor ponto de partida.

3) Já existem escolas nos EUA que aboliram os livros didáticos, ou melhor, colocaram todos eles nos tablets  dos alunos. Você acredita que isso se tornará uma tendência aqui no Brasil também? Os livros de papel se tornarão peças de museus?

Essa parece ser uma tendência não somente para o Brasil, mas para a grande parte dos países. A Índia, por exemplo, anunciou há algumas semanas tablets muito baratos para serem distribuídos nas suas escolas, já no Brasil, o governo prometeu isenções fiscais significativas para facilitar o acesso. Apesar de facilidades de acesso estarem em prioridade, quando se trata de livro didático acredito que no Brasil as duas versões vão coexistir por muito tempo ainda, nós ainda “precisamos” do papel.

Uma questão importante também quando pensamos em livro é pensar na produção destes materiais. As grandes editoras brasileiras estão trabalhando para oferecer versões digitais com alguns recursos adicionais de seus livros impressos, mas pelo menos por enquanto, não sinto que estão descartando a venda de material impresso.

Outro ponto importante é que não deveríamos ser meros consumidores de material didático, eu acredito e aposto na produção colaborativa de professores e alunos. Imagine escolas que compartilham e remixam seus próprios materiais educacionais para atender suas demandas internas e regionalidades, fortalecendo o acesso e a distribuição do conhecimento e da cultura livre? Estou falando aqui da filosofia dos Recursos Educacionais Abertos, que são basicamente quaisquer materiais educacionais que possam ser alterados, remixados e compartilhados livremente por qualquer pessoa, incluindo professores e alunos, que podem deixar de ser meros consumidores de informação para se tornarem autores e contribuidores na produção e disseminação do conhecimento.

Parte 2 – falo sobre meu “modelo ideal” de escola e como é possível implementar as novas tecnologias dentro da sala de aula com a ajuda dos próprios alunos.

1) Você acha que um professor que hoje em dia não utiliza a internet em sua metodologia de ensino está defasado em relação aos outros?

Eu acredito que não usar tecnologia como meio pedagógico é estar ignorando o mundo como ele é fora dos muros da escola! Pensemos nas nossas ações, no nosso trabalho, a forma como pagamos nossas contas e fazemos compras, nas novas formas de comunicação, todas essas pequenas ações são mediadas pela internet e por diferentes telas digitais (computadores, celulares, videogames, tablets). Para muitas crianças, a escola é o local onde dão seus primeiros passos no mundo digital e a habilidade de entender e usar a internet também como meio de aprender e compartilhar é essencial em tempos de cultura digital. Eu concordo com o argumento que em nível de políticas públicas efetivas para a educação e o provimento de educação continuada é ineficiente, de fato. A formação para uso de tecnologia na escola está longe do ideal, mas não podemos nos esconder atrás do rótulo: “estão me obrigando a usar tecnologia na escola e eu não tenho nada com isso”. Não é só o professor que tem novas demandas no trabalho, o caixa do supermercado, o bancário, o atendente da padaria, todas as classes trabalhadoras têm novas exigências em relação ao trabalho e a adoção de tecnologia.

2) Como seria, em sua opinião, o modelo ideal de escola e ensino?

Não existe (ou não deveria existir) receita de bolo, vivemos em um país de proporções continentais e as regionalidades e limitações de cada local devem ser levadas em conta e superadas.

Acredito em alguns pontos básicos que poderíamos chamar de “diretriz comum”. A escola ideal pra mim é aquela que valoriza seu aluno como protagonista, é a escola em que o professor não é mais o centro do conhecimento, é a escola em que professores e alunos são parceiros na construção da aprendizagem, a responsabilidade é compartilhada e todos encontram seu papel.

3) Para as escolas que ainda não introduziram as ferramentas tecnológicas em seus programas pedagógicos, quais seriam os primeiros passos para que elas comecem a utilizar tecnologia para o aprendizado de seus alunos?

Existe uma diferença enorme entre ter tecnologia na escola e usar tecnologia na escola como meio pedagógico. O simples uso de tecnologia sem mudanças metodológicas não resultará em inovação e pouco vai adicionar ao processo de aprendizado.

Muitas vezes reclamamos que na nossa escola não temos apoio técnico, que é difícil “domar” a máquina, mas acredito que é preciso ter em mente que a escola está cheia de “experts”, que sabem resolver alguns problemas ou que se sentiriam extremamente desafiados a buscar soluções: seus alunos! Mais uma vez retornamos à ideia de alunos e professores trabalhando juntos na resolução de desafios, na construção do conhecimento e na participação ativa no processo educativo.

Também já comentamos que nem sempre recebemos formação continuada para nos aventurarmos por campos desconhecidos, como o uso pedagógico das novas tecnologias e das telas digitais. Existe solução? Existe!

Os novos processos comunicacionais e o aprendizado descentralizado que a internet proporciona pode ajudar você, professor, e tomar pouco tempo da sua rotina diária! Você ainda pode não ser um especialista na inovação de seus processos metodológicos com uso de tecnologia, mas pense bem, você certamente é um usuário. Provavelmente você tem e-mail, já viu ou pesquisou um vídeo no Youtube, usa algum comunicador instantâneo para falar com seus parentes e/ou amigos distantes, participa de alguma rede de relacionamento como Orkut ou Facebook. Todas estas redes são habitadas também por outros educadores que tentam tirar proveito delas para aprender e também ensinar. Estes educadores compartilham em rede seus acertos e erros e colaborativamente buscam melhorar. Experimente fazer parte destes grupos de pessoas que vêm de todos os cantos do país, vou citar algumas boas possibilidades das quais participo:

  • Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital: já reúne mais de 2000 educadores que aprendem em rede, formando um verdadeiro coletivo virtual de educadores. Você pode participar pelo ambiente interativo do grupo, pelo Twitter, Youtube e Orkut.
  • No Facebook existem grupos fantásticos e super ativos que discutem tecnologia e educação como: A Cultura Digital e a Formação de Professores, Recursos Educacionais Abertos, Filtros Educação & Aprendizagem XXI, entre outros.
  • No Twitter você pode seguir hashtags como #ECDigital, #eadsunday, #culturadigital #reabr
  • Portal Educarede Brasil: você encontra uma infinidade de exemplos de projetos bem sucedidos desenvolvidos por professores como você, além de uma vasta biblioteca de recursos que podem ajudar a sua aula e também oferta de cursos online.

Os professores e escolas não estão sozinhos nesta caminhada, além destes espaços existem inúmeros outros que você vai descobrindo conforme navega e conforme se relaciona com seus pares.

Experiências Educativas nas Aulas do Século XXI: Inovação com TIC

Comecei a ler este material editado pela Fundação Telefônica Espanha, sobre experiências educativas realizadas por lá desde o ensino infantil até o ensino universitário. A publicação está em Creative Commons 🙂